Nada sei, esse deveria ser o nome do blog, caso alguém não
tivesse registrado antes. “Saber em parte” também funciona porque traduz aquilo
que me vem à cabeça sobre o resultado da minha constante procura pelo saber.
Não sendo filósofo profissional me torno filósofo funcional
pela constante curiosidade e tentativa de explicar as coisas. Algo que surge de
uma ânsia quase infantil, do tipo colocar o dedo na tomada.
Do saber quero o prazer, inexplicável, de simplesmente descobrir
e ir além. Conhecer e prosseguir conhecendo, porque hoje conheço em parte, mas
um dia conhecerei por completo. Hoje, é saber em parte para na eternidade vir a
saber no todo. Por isso, posso dizer que nada sei.
Há muito tempo me impressiona a figura de Sócrates e sua
postura em relação à busca pelo conhecimento da verdade. Próximo de sua morte,
condenado a beber veneno pelos magistrados de Atenas sob a acusação de
corromper as mentes dos jovens aristocratas de então, Sócrates, como parte de
sua defesa teria dito:
“Sei bem que não sou
sábio, nem muito nem pouco: o que quer dizer, pois, afirmando que sou o mais
sábio? Certo não mente, não é possível. E fiquei por muito tempo em dúvida
sobre o que pudesse dizer; depois de grande fadiga resolvi buscar a
significação do seguinte modo: Fui a um daqueles detentores da sabedoria, com a
intenção de refutar, por meio dele, sem dúvida, o Oráculo, e, com tais provas,
opor-lhe a minha resposta: Este é mais sábio que eu, enquanto tu dizias que eu
sou o mais sábio. Examinando esse tal – não importa o nome, mas era, cidadãos
atenienses, um dos políticos, este de quem eu experimentava essa impressão – e
falando com ele, afigurou-se-me que esse homem parecia sábio a muitos outros e
principalmente a si mesmo, mas não era sábio. Procurei demonstrar-lhe que ele
parecia sábio sem o ser. Daí me veio o ódio dele e de muitos dos presentes.
Então, pus-me a considerar, de mim para mim, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, ao
contrário, nenhum de nós sabe nada de belo e bom, mas aquele homem acredita
saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou
certo de não saber.”
Tendo sido considerado o mais sábio daquele tempo e sabendo
que sabia muitas coisas, percebeu que, comparando-se aos outros que também eram
considerados sábios, havia uma distinção entre ele e os demais. Aqueles não
apenas eram sábios mas arrogantemente achavam que realmente o eram. Sócrates,
no entanto, chegou à conclusão de que a sua busca pelo saber impunha também o conhecimento
da limitação da apreensão deste saber diante do tamanho da realidade. Em sua
finitude, e depois de muito saber, ele pôde expressar a humildade, alguns dirão
modéstia irônica, de verdadeiramente não saber.
Curioso o fato de que Sócrates não deixou nada escrito.
Mesmo o relato acima foi feito por Platão, um de seus discípulos, no texto Apologia. Ensinou e influenciou a
muitos, incluindo a nossa sociedade ocidental contemporânea. Ele sequer ganhava
para ensinar. Tendo herdado algum dinheiro, ensinava por prazer. Por estar
livre das amarras e possíveis pressões de mandatários pôde exercer o ofício de
mestre sem restrições. O que esperar de seus jovens discípulos que estavam
sendo treinados a questionar na busca pelo conhecimento? Obviamente, por conta disso, foi
acusado e, finalmente, pensaram os seus juízes, calado. Mas o saber libertador
não se cala. Ele sempre rompe as fronteiras e estruturas porque procura
expressar a verdade.
Aquele que não sabe, está pronto a dialogar e aprender.
Aquele que sabe, não pode sequer conviver. Diálogo, por sinal, foi o método
usado por Sócrates para ensinar. Melhor dizendo, o método socrático, que inclui
a dialética, a maiêutica e outras técnicas, parte da premissa de que é
necessário perguntar e comunitariamente tentar descobrir os caminhos da
verdade.
O que hoje eu sei, é que nada sei. O que hoje eu sei, é que
sei em parte. Por isso, me aventuro a continuar não sabendo.
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